Em situação de desespero, migrantes e refugiados enfrentam as baixas temperaturas da Sérvia

Autoridades sérvias, junto com o ACNUR e parceiros, intensificam esforços para aumentar a capacidade de abrigos de emergência e acolher centenas de pessoas que estão dormindo na rua.

Hazrat, de 16 anos, um refugiado afegão

Hazrat, de 16 anos, um refugiado afegão, aquece-se em fogueira atrás da principal estação ferroviária de Belgrado.

 

BELGRADO, SÉRVIA [ ABN NEWS ] — Refugiados e migrantes que optaram por deixar abrigos improvisados e insalubres em Belgrado estão sendo transferidos para as acomodações de emergência que foram recentemente estabelecidas pelo governo fora da cidade. A ação teve início após a crescente preocupação a respeito das centenas de pessoas que dormiam nas ruas expostas a temperaturas negativas e que haviam resistido aos apelos prévios para serem transferidas.

Graças aos esforços de autoridades, do ACNUR e de agências humanitárias na Sérvia, durante os últimos meses, cerca de 85% de refugiados, solicitantes de refúgio e migrantes que estão vivendo no país foram acomodados em abrigos do governo. Na última semana, desde que foi aberto pelas autoridades, aproximadamente 390 pessoas procuraram abrigo de forma voluntária na instalação temporária de Obrenovac. Entretanto, um número estimado de 1.000 refugiados e migrantes permanecem acampados em um depósito localizado atrás da principal estação de trem de Belgrado. Lá, os moradores amenizam o frio intenso queimando dormentes de trilhos descartados durante vinte quatro horas por dia, o que acaba gerando uma permanente nuvem de fumaça tóxica. Muitos afirmam que estão sofrendo as consequências pela inalação da fumaça, além disso, diversos casos de perda de membros por congelamento têm ocorrido.

As autoridades sérvias, o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, e parceiros, estão atualmente trabalhando para expandir a capacidade do abrigo emergencial para acolher aqueles que estão aguardando para sair dos depósitos, mas que se recusaram a deixar os locais nos últimos dias. O ACNUR contribuiu doando roupas novas, cobertores, colchões e kits de higiene.

 

“Ás vezes não sinto minhas pernas durante a noite,
mas tento dormir mesmo assim.”

 

“Eu tive que ir embora, lá estava muito frio e sujo”, disse Kiramat Safi, 17 anos, um adolescente desacompanhado do Afeganistão que, na semana passada, depois de quatro meses vivendo no depósito, decidiu deixar o local e se mudar para o abrigo Krnjaca localizado nas proximidades. “Agora me sinto muito melhor porque aqui está mais quente, não há fumaça e eu não durmo mais ao relento”.

“Continuarei vivendo aqui enquanto estiver frio lá fora”, disse Abedulah Ibrahimi, 12 anos, outra criança desacompanhada que deixou os depósitos na última semana para se abrigar em Krnjaca. “Eu quero ir à escola, e talvez aqui eles me ajudem”.

Outros, que não desejam solicitar refúgio na Sérvia e que estão determinados a continuar suas jornadas para outros países, irão permanecer nos depósitos abandonados apesar dos riscos devido à exposição à fumaça e as baixas temperaturas. Recentemente, o ACNUR distribuiu panfletos redigidos em idioma farsi explicando que eles têm direito de serem acomodados em abrigos do governo. Além disso, também tem intensificado seu trabalho para identificar crianças desacompanhadas tanto lá como em outros locais.

 

Um homem aquece a água em uma fogueira

Um homem aquece a água em uma fogueira atrás de um armazém.

 

“Ás vezes não sinto minhas pernas durante a noite, mas tento dormir mesmo assim”, disse Hazrat Bilal, 14 anos, um adolescente desacompanhado do Afeganistão que passou os últimos quatro meses no depósito. “Eu sei que a fumaça me faz mal”, ele acrescentou, sentado próximo a um dormente em chamas. “Mas o que mais posso fazer nesse frio?”

Assim como muitos outros aqui, Hazrat disse que continuará tentando cruzar a fronteira para a Hungria ou Croácia. A maioria deles relata diversas tentativas frustradas, sendo que em algumas delas foram agredidos e acabaram sendo forçados a voltar para a Sérvia.

“Os contrabandistas levaram todo o meu dinheiro, outros me agrediram”, disse Hazrat, que foi forçado a fugir da violência no Afeganistão depois que seu pai foi assassinado. “Ainda assim continuarei tentando cruzar a fronteira, acredito que um dia vai dar certo”.

O ACNUR tem expressado preocupação diante dos abusos cometidos contra refugiados e migrantes por gangues criminosas, incluindo sequestros, agressões físicas, ameaças e extorsões, e insiste para que os países europeus intensifiquem seus esforços para enfrentar essa rede criminosa e garantir a segurança dessas pessoas.

As duras condições climáticas já fizeram com que muitos reconsiderassem a permanência nos depósitos. “Aqui não está bom e eu estou sozinho”, disse o afegão Jibral Kochel, de 13 anos, que depois de ficar 3 meses ao relento decidiu embarcar no próximo ônibus par ao abrigo de emergência. “O abrigo será muito bom. Aqui temos muitos problemas, todos nós estamos adoecendo”.

Kamran Khan, 14 anos, e seu irmão mais velho Aman, 16 anos, também já não querem ficar no depósito e embarcarão no próximo ônibus para o abrigo. “Talvez a gente tente cruzar a fronteira novamente”, disse Kamran, que também veio do Afeganistão. “Mas não agora nesse frio, está muito perigoso. Precisamos descansar”.