Matemática Cultural: Erro e Consequência

PROFESSOR RENATO JOSE DA COSTA VALLADARES

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Renato J. Costa Valladares,
Professor e Escritor, é Doutor em Ciências e Mestre em Matemática.
 
RIO [ ABN NEWS ] — Um pré-adolescente já começa a lidar com números que variam. O corpo cresce, a idade começa a se mostrar, o dinheiro passa a ser desejado. As ideias apontam direções novas, que a criança desconhecia.

Este crescendo de variações vai se acumulando e no início do nível médio o adolescente precisa entender melhor os números sob pena de perder o passo. A Matemática apresenta as funções que oferecem ao estudante um recurso adequado aos ‘números que variam’. Abre-se um importante entendimento matemático que se estende muito além da Matemática. Atinge-se a “Matemática Cultural”.

O tempo passa rápido e os jovens fazem suas opções profissionais. Muitos escolhem carreiras de base matemática e necessitam conhecer assuntos adequados a este nível de aprendizagem.

As funções desenvolvem vários temas e sempre que possível usa-se situações interessantes. Neste ponto gostaríamos citar um tema largamente usado. Trata-se da pesquisa eleitoral que sempre nos acompanhou em nossas aulas, nossos alunos e os raciocínios de todos nós. Que marcou fatos interessantes no livro “Cálculo e Aplicações 1”, de nossa autoria.

Logo após o 1o turno das eleições municipais do ano 2000, os jornais se ocuparam de pesquisas eleitorais que, segundo se afirmava, haviam cometido muitos erros. Em especial, duas delas chamavam a atenção. Um instituto previu que na cidade A, o candidato X obteria uma votação da ordem de 37%. O mesmo instituto previu que na cidade B, o candidato Y obteria cerca de 52% dos votos. Nenhuma das previsões se confirmou, apresentando erros. Isto era de esperar, já que pesquisas eleitorais apresentam estimativas e não previsões exatas.

Os erros cometidos foram da ordem de 3%, pois a votação de X foi pouco maior que 34%, enquanto Y obtinha pouco menos que 50%. O erro da cidade X foi considerado normal, dentro da margem de tolerância. Com o erro de Y aconteceu o contrário. Ele não foi aceito, tendo sido considerado uma situação inesperada.

Cabe então perguntar por que o mesmo erro, da ordem de 3%, foi considerado normal para a cidade A e uma situação inesperada na cidade B?

A resposta é simples, pois há o erro e a consequência. Em A a diferença não alterou a expectativa sobre o resultado da eleição, que era a ida do candidato para o 2º turno. Com o percentual de 52% previsto para Y, o candidato seria eleito no 1º turno, enquanto com o percentual inferior a 50%, obtido, o candidato teve que disputar o 2º turno.

Vemos, assim, que um erro da ordem de 3% não é, a priori, grande nem pequeno. Para dimensioná-lo é necessário analisar suas consequências. Se estas forem pequenas, como no caso de X, o erro diminui. Se forem grandes, como no caso de Y, o erro cresceu.

Realmente, não é pequeno, o erro de apontar como eleito, um candidato que teve que disputar o 2º turno. O erro tornou-se ainda maior depois do 2º turno, quando o candidato Y foi derrotado.

O leitor interessado pode entrar em contato com o autor no e-mail rjcvalladares@gmail.com ou acessar o seu perfil no Facebook.