A Crônica: Período Eleitoral – Andreia Donadon Leal

Escritora Andreia Donadon Leal

 

Período Eleitoral

Andreia Donadon Leal

 

MARIANA [ ABN NEWS ] — Já pensou em quem votar, nobre eleitor e eleitora? Assista aos programas dos/das candidatos/candidatas na televisão, na rádio, e leia os perfis nos famosos santinhos jogados no terreiro de suas casas. Ou nas beiras de ruas, nas beiras de terrenos baldios, nos pára-choques e nos vidros de carros. Na entrada e na saída de qualquer cidade, Eles ou Elas estarão lá, bonitos na foto, com sorriso largo no rosto. Estamos no famoso período eleitoral! Sejam bem-vindos à época de discursos inflamados, alfinetados, promissores, açucarados, arrogantes, incompreensíveis, insatisfatórios, petulantes, indiscretos, chamativos, apelativos, nervosos, com direito a sobremesa bem amarga nos debates: um português pastoso, azedo e quebrado. É isso mesmo, caríssimo eleitor. Algumas vozes altissonantes que chegam a agredir os ouvidos. Já escutou pedaços de vidros sendo triturados por um liquidificador ou a rotação em alta velocidade de um disco de vinil arranhado? A Língua Portuguesa é difícil sim, repleta de curvas, de faixas contínuas, de declives, de aclives, de sinais verdes, amarelos e vermelhos que desrespeitados, poderão ocasionar acidente leve, moderado ou grave. O nível do acidente linguístico dependerá do tempo em que o/a candidato/a ficar se debatendo com o adversário ou respondendo às perguntas capciosas dos repórteres (não com os punhos cerrados, mas usando com eloquência e falso intelectualismo, a linguagem); dando pequenas derrapadas em algumas frases, que às vezes, nos fazem rir para não chorar de vergonha, de desespero ou por falta de opção mesmo.

Pobre candidato que corre feito louco pelos distritos, bairros e centro da cidade, buscando votos da população. O pobre fica famoso nesta época, virando protagonista ao lado do candidato, que sinaliza um ok com os dedos, sorrindo de forma escancarada, mostrando os dentes. Foto com o pobre, vídeo com o pobre, depoimento com o pobre, abraços e beijinhos no pobre. Melhor amigo do pobre, confidente do pobre, irmão do pobre. Toma café na casa do pobre, tendo tempo disponível para se sentar na cozinha do pobre. Carrega os filhos pequenos do pobre, promete para os pobres reunidos, que desta vez a coisa vai melhorar, de fato. Pobre do pobre!

O/a candidato/a não para por aí. Continua seu périplo, com agendas lotadas, pés inchados, vozes roucas, sono comprometido; telefone móvel no último volume (agora não vale deixar no silencioso!). Estômago azedo pelo excesso de cafeína. Sorriso constante no rosto, até na hora de dormir. Vive a mil por hora, como num filme em projeção acelerada: ritmo alucinante e sem cortes. Vida dura, passagem de sangue, suor e lágrimas, na busca obstinada por uma cadeira na câmara municipal ou na prefeitura como grande chefe do Município. O/a candidato/a não pode deixar a energia esmorecer, afinal o período da campanha foi reduzido pela metade!

‘É tudo o que eu quero: trabalhar pela educação, pela saúde, pela cultura, pelo meio ambiente, pelo saneamento básico, pelo trabalho, pelo progresso, pela vida, pelo povo’!

Hoje, a manhã amanheceu cinzenta, choveu à noite… Nuvens plúmbeas passeiam pelo céu. Acordei, fui à caixa de correios. Um monte de papel jogado na porta da minha casa.

‘Ah! Não são os santinhos nem as cartas endereçadas ao eleitor, ainda!’ São sim propagandas de lojas da cidade, que jogam debaixo dos portões e das portas; catálogos e mais catálogos de seus produtos em promoção. Corro os olhos pelas páginas. Assusto com os preços promocionais. Se isto for promoção, Deus do céu, imagine o preço normal. A coisa está pela hora da morte! A cólera vem à tona. Não é pelo preço das mercadorias. É pela falta de noção de quem distribui os panfletos. Tenho que me abaixar (a hérnia de disco doe mais nesta época), para catar o monte de papel jogado na porta e no terreiro da minha casa. A coluna estala pelo movimento; minhas mãos ficam sujas. Xingo os comerciantes das lojas, pois os panfletos poderiam ser colocados na caixa de correios. E por que não fazem isto? Não sei! Recordo-me que estamos no período eleitoral. Os candidatos já registraram suas candidaturas. A duração das campanhas foi reduzida pela metade dos dias. Retorno o olhar para o chão do meu terreiro. Agora vamos receber material gráfico na porta de casa de forma ampliada. Nesta hora: compreensão, serenidade e muita paciência, para conviver com o período eleitoral. O poder está em nossas mãos. Vamos ler propostas de governo, avaliar os candidatos e as candidatas e pensar, pensar muito em quem votar. Eu sei que a vida é dura para a maioria dos brasileiros, e que precisamos de sonhos e de ilusões para continuar nossa caminhada, mas deixemos o sonho para outras ocasiões e vamos pensar na realidade de nossa cidade. Precisamos de novos tempos, novas ideias, nova administração. Afinal, votamos para quê? Para eleger representantes dignos, competentes e comprometidos com o desejo de bem-estar de um povo.

 

Andreia Aparecida Silva Donadon Leal – Deia Leal é Mestre em Letras – Estudos Literários pela UFV. Presidente da ALACIB. Diretora de Projetos Culturais da Aldrava Letras e Artes.