Kuwait doa US$ 110 milhões para refugiados apoiados pela ONU na Síria

Alto Comissário António Guterres e embaixador do Kuwait Dharar Abdul-Razzak Razzooqi

O Alto Comissário António Guterres recebe o cheque de US$ 110 milhões do embaixador do Kuwait Dharar Abdul-Razzak Razzooqi para a operação do ACNUR na região da Síria.

 

GENEBRA [ ABN NEWS ] – Nesta quinta-feira (18), o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, agradeceu o Kuwait pela doação sem precedentes de US$ 110 milhões para a operação de assistência aos refugiados sírios.

Durante a cerimônia de entrega do cheque em Genebra, o Alto Comissário pediu que outros países façam como o Kuwait, cuja doação representa um “respiro para o ACNUR [agência da ONU para refugiados] e outras agências num momento em que os recursos estão em um nível desesperadamente baixo”, disse.

Guterres reiterou a proposta de os países manterem um fundo especial para a crise na Síria, já que os orçamentos existentes para atender as crises humanitárias não são mais suficientes. “Com o orçamento atual não há como atender as necessidades do povo sírio, dentro e fora do país”, frisou o Alto Comissário, notando que a situação na Síria “tem piorado dia após dia”.

O embaixador do Kuwait, Dharar Abdul-Razzaq Razzooqi, entregou um cheque de US$ 275 milhões para o ACNUR e outras agências das Nações Unidas, incluindo o Programa Mundial de Alimentos (US$ 40 milhões), a Organização Mundial da Saúde (US$ 35 milhões), o UNICEF (US$ 53 milhões), a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (US$ 15 milhões) e o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (US$ 10 milhões).

Segundo ele, o desembolso levou tempo pois o governo do Kuwait e seus parceiros precisaram avaliar com cuidado os setores mais carentes.

Guterres afirmou que, antes da contribuição do Kuwait, a operação do ACNUR na Síria estava entre 30 e 32% coberta. A doação do país – a maior já feita por uma nação do Golfo – elevará este total para 50%. “Esta contribuição é extremamente importante porque nos permite respirar um pouco, embora ainda seja muito necessário que outros investimentos sejam feitos.”
Oito mil sírios deixam o país diariamente

De acordo com o Alto Comissário, as necessidades dos refugiados continuam aumentando: a versão de dezembro do Plano Regional de Resposta previa que o número de refugiados sírios chegaria a 1,1 milhão em meados de 2013.

No entanto, Guterres divulgou dados na última quarta-feira (17) mostrando que o número de refugiados já chega a 1,3 milhão. Em média 8 mil sírios estão deixando seu país diariamente. Um novo apelo será lançado em maio, afirmou.

“Isto mostra que temos uma tarefa muito maior do que imaginávamos. Infelizmente nossos programas ainda estão subfinanciados. A contribuição do Kuwait mudou substancialmente a situação e nos permitirá intensificar os esforços”, disse Guterres.

No entanto, o Alto Comissário notou que enquanto o ACNUR e seus parceiros têm conseguido trabalhar nos países vizinhos à Síria, a escalada dos problemas indica que “nossa capacidade de prestar assistência não está na mesma proporção das necessidades”. Entre estas necessidades estão abrigo, comida, assistência de saúde, acesso a educação infantil, aconselhamento psicossocial e ajuda financeira.

Para Guterres, é por isso que o ACNUR e seus parceiros — incluindo as diversas agências da ONU presentes à cerimônia — apelam a governos para levantarem fundos especiais para a Síria.
“Esta crise não é como as outras, sua dimensão, intensidade, seus níveis de sofrimento e destruição são tais que os recursos humanitários habituais não darão conta de contorná-la”, disse.

“É por isso que meus colegas e eu temos insistido que os países aprovem a liberação de recursos extras o mais rápido possível para que possamos lidar com esta dramática crise humanitária”, acrescentou Guterres, confiante de que seu pedido receberá apoio.
Crise não acaba sem solução política, avalia Guterres

“Sem a oportuna contribuição do Kuwait estaríamos em extrema dificuldade”, ressaltou, acrescentando que a crise não dá mostras de acabar e, se não houver uma solução política, o número de refugiados poderá triplicar até o fim do ano.

Incentivando outros países a seguir o exemplo do Kuwait, ele alertou que sem recursos “provavelmente teremos de restringir as atividades à proteção e uma assistência básica emergencial”.

Representantes de outras organizações presentes em Genebra também relataram ter poucos recursos e que a contribuição do Kuwait terá um grande impacto em suas operações. O Diretor-Geral Assistente da OMS, Bruce Aylward, disse que a contribuição permitirá atender 3,7 milhões de pessoas além dos atuais 2 milhões. “Será uma mudança radical no que é possível fazer”, disse.

Agradecendo o Kuwait, Guterres parabenizou “a sabedoria e a coragem do Emir [Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah] em decidir agir em prol do sistema humanitário internacional e multilateral. Isto aumenta a influência do país na comunidade internacional”.