Vendaval na República

Vendaval na República do Planalto

 
 

Nicias Ribeiro [*]

 
BRASÍLIA [ ABN NEWS ] — Entrei prá politica partidária ainda muito jovem. Fui Vereador de Belém por dois anos. Depois fui Deputado Estadual por três mandatos consecutivos. Em 1990, me elegi Deputado Federal pela primeira vez.

Em 1991 fui membro titular da Comissão Mista de Orçamento, do Congresso Nacional, quando houve um grande escândalo envolvendo membros daquela Comissão, o que levou o Congresso a criar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) apelidada de “CPI dos Anões do Orçamento”, em razão dos envolvidos serem todos de baixa estatura. Confesso que fiquei assustado com o que vi, não só porque era membro daquela Comissão Mista, mas porque era inimaginável, até então, a pratica de corrupção na elaboração do Orçamento da União. Por isso, enquanto congressista nunca mais participei da Comissão Mista de Orçamento.

Mas, eis que a chamada “CPI dos Anões” não terminou em pizza, como tantas outras, uma vez que identificou todos os envolvidos, muitos dos quais renunciaram aos seus mandatos e outros, num total de 18 Deputados foram levados ao Conselho de Ética e tiveram os seus mandatos cassados pelo Plenário da Câmara.

Mas, nem bem passou aquele tufão, eis que Pedro Collor dá uma entrevista à VEJA, denunciando o próprio irmão de ilícitos no exercício da presidência da Republica, fatos que levaram à criação de uma CPMI para investigar o Presidente Fernando Collor, que, a rigor, desaguou no Processo de impeachment, que, como todos sabem, foi aprovado na Câmara dos Deputados e julgado no Senado, numa sessão presidida pelo Ministro Sydney Sanches, então Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ocasião em que foi cassado o mandato do Presidente Collor e empossado no cargo o então vice-presidente Itamar Franco.

No dia seguinte fui a Tribuna da Câmara e disse, em síntese, que a partir daquele dia o Brasil seria outro País. Ledo engano, até porque em 2005 veio à tona o escândalo do mensalão, envolvendo dentre outros o então Chefe da Casa Civil da presidência da Republica, Deputado José Dirceu e que por pouco não levou o País a um novo processo de impeachment, desta vez contra o então Presidente Lula da Silva, que, perante à Nação, jurava de pés juntos que não sabia de nada.

Muitos parlamentares envolvidos foram levados ao Conselho de Ética e tiveram os seus mandatos e os direitos políticos cassados. Outros renunciaram, antes do inicio do processo. A Procuradoria da Republica, por sua vez, denunciou os envolvidos à justiça e muitos dos acusados tornaram-se réus. E o tempo passou!…

Para muitos o mensalão era, apenas, um escândalo provocado pela oposição, para denegrir a imagem do Lula. Mas, para a surpresa geral, eis que o Ministro Joaquim Barbosa levou o processo do mensalão à pauta do STF. Foi àquele corre-corre, até porque a grande maioria imaginava que o mensalão seria arquivado por prescrição. Não foi. Foi julgado e vários foram condenados e presos. A grita foi geral, até porque pela primeira vez gente poderosa estava sendo condenada e indo para a cadeia.

A partir dali, ninguém mais duvidou que o mensalão não havia ocorrido. A Nação ficou atônita com aquele que se imaginava fosse o maior escândalo da nossa historia. Mais uma vez, um ledo engano. Ainda estava por vir o maior dos escândalos, o Petrolão, cujos envolvidos foram e ainda estão sendo processados e julgados pela Justiça Federal do Paraná, sendo que mais de uma centena de processos já teve prolatada as sentenças pelo Juiz Sérgio Moro, que, na verdade, já decretou a prisão de mais de 120 envolvidos no escândalo do Petrolão.

É evidente que a nação aplaude o trabalho do Juiz Sérgio Moro e do MPF do Paraná. Mas pergunta-se: e àqueles que têm o chamado foro privilegiado, que são investigados pela Procuradoria Geral da Republica (PGR) e julgados pelo Supremo Tribunal Federal?…

Na semana passada foi preso o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral. Ontem (15), o Ministro Teori Zavascki, do STF, expediu mandados de busca e apreensão nas residências dos atuais Ministros do Turismo e da Ciência e Tecnologia, do Senador Edison Lobão e do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Creio que a partir deste vendaval, da Lava Jato, ninguém mais duvida da disposição do STF de purificar o andar de cima da Republica.

[*] Nicias Ribeiros é jornalista, professor, engenheiro eletrônico e parlamentar.